Viver com Propósito: Reflexões Sobre a Brevidade da Vida

"Como lidar com a fragilidade da vida e as lições que tragédias inesperadas nos ensinam? Neste artigo, compartilho uma reflexão profunda e emocionante sobre a brevidade da existência, inspirada em Sêneca e em uma perda que tocou meu coração esta semana. Descubra como podemos viver com propósito e intenção, mesmo em meio à incerteza."

Dr. Fernando Fonseca Costa

12/2/20243 min read

"Preparamos nossa mente como se tivéssemos chegado ao fim da vida. Não adiemos nada. Façamos o balanço dos livros da vida a cada dia [...] Aquele que põe os toques finais em sua vida a cada dia nunca falta tempo."
(Sêneca, Cartas Morais, 101, 7B-8A)

Esta semana, o silêncio de uma perda ecoou mais forte do que qualquer barulho. Uma amiga de trabalho perdeu o marido, um engenheiro dedicado, que saiu para mais um dia comum no trabalho e não voltou. Um acidente trágico interrompeu abruptamente a jornada de um homem cheio de planos, de sonhos e, provavelmente, com tarefas inacabadas. Essa notícia me atingiu como um golpe silencioso, trazendo consigo uma onda de tristeza e reflexão.

Conhecendo a dor de minha amiga, imaginei os instantes finais daquele homem. Ele teria se despedido apressado de sua esposa naquela manhã, talvez com um beijo rápido e uma promessa de que conversariam melhor à noite? Teria deixado algo por dizer ou um abraço para depois? E, para ela, que agora enfrenta esse vazio irreparável, as últimas palavras e momentos tornaram-se preciosos demais, quase insuportáveis de revisitar.

O Confronto com a Fragilidade da Vida

A tragédia me fez revisitar as palavras de Sêneca com outros olhos. Não é apenas sobre viver cada dia como se fosse o último; é sobre viver com o peso consciente da finitude. A cada dia, carregamos uma falsa impressão de permanência, adiamos conversas, afetos e sonhos para "amanhã". Mas e se o amanhã não chegar?

Lembrei-me de uma manhã, anos atrás, quando quase perdi meu filho pequeno em um acidente doméstico. O medo que senti naquele dia me fez perceber como a vida pode mudar num piscar de olhos. Às vezes, é preciso um choque — como aquele ou o que vivi esta semana — para acordarmos para o que realmente importa.

Uma Revelação Transformadora

Refletindo sobre a perda do marido de minha amiga, percebi que, embora não possamos prever o fim, podemos viver com a intenção de estar em paz com o que deixamos para trás a cada dia. Podemos nos despedir de quem amamos com amor explícito, resolver os conflitos que podemos resolver e valorizar os momentos que temos.

A filosofia estoica não busca nos anestesiar diante da dor, mas nos guiar para viver plenamente, com coragem e clareza, mesmo em face do desconhecido. O balanço dos "livros da vida" que Sêneca propõe não significa fechar capítulos com perfeição, mas garantir que cada página reflita o que realmente importa: nossas ações, nossos relacionamentos, nosso amor.

Uma Vida com Toques Finais Diários

Na próxima vez que eu sair de casa pela manhã, vou abraçar minha esposa e meus filhos por um instante mais longo. Vou tentar dizer o que sinto sem medo de parecer vulnerável. E, ao retornar à noite, vou perguntar a mim mesmo: "Hoje, vivi com propósito? Hoje, fiz o suficiente para deixar algo bom neste mundo?"

Essas pequenas ações não são apenas rituais de proteção contra o arrependimento; são maneiras de honrar a fragilidade e a preciosidade da vida. Porque, como o marido de minha amiga nos lembra silenciosamente em sua ausência, não sabemos quantas manhãs ou noites ainda nos restam.

O Legado de Quem Partiu

O engenheiro que se foi deixou um legado, mesmo sem saber. Ele nos lembra que a vida não é feita apenas de grandes feitos, mas de pequenos momentos vividos com verdade. Sua tragédia nos ensina que amar, viver com intenção e estar presente não pode ser algo adiado.

Hoje, em memória dele e pela força de sua esposa, decidi que cada dia será tratado como um presente, e cada momento significativo será celebrado. Sêneca tinha razão: aquele que põe os toques finais em sua vida a cada dia nunca falta tempo. Que assim vivamos, não por medo do fim, mas por amor àquilo que temos agora.